Pressão arterial e sua correlação com a pressão ocular
Por: Dra. Hissa Tavares de Lima – diretora da SBG
A hipertensão arterial é uma doença que acomete em torno de 50 milhões de pessoas no brasil, dados do ministério da Saúde, o que corresponde a 45% da população brasileira. É sabido que essa patologia acomete pessoas acima dos 55 anos; porém vem atingindo cada vez mais jovens. Essa faixa etária coincide com o aumento da incidência de glaucoma, que acomete no nosso país cerca de 2,5 milhões de pessoas, de acordo com a Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG). As duas doenças podem acometer a mesma pessoa, e isso é cada vez mais comum em virtude do aumento da expectativa de vida da população.
A relação entre a pressão intraocular (PIO) e a pressão arterial (PA) com o glaucoma é complexa e ainda não totalmente compreendida, mas há algumas considerações importantes a serem feitas:
- Pressão Intraocular (PIO): A PIO refere-se à pressão dentro do olho. No contexto do glaucoma, a pressão intraocular elevada é um fator de risco importante para o desenvolvimento e progressão da doença. Isso ocorre porque a pressão elevada pode danificar o nervo óptico, que é essencial para a transmissão de sinais visuais para o cérebro. No entanto, é importante observar que nem todos os casos de glaucoma estão associados a uma pressão intraocular elevada. Algumas pessoas desenvolvem glaucoma mesmo com níveis normais de pressão intraocular, enquanto outras podem ter pressão intraocular elevada sem desenvolver glaucoma.
- Pressão Arterial (PA): A pressão arterial é a força exercida pelo sangue contra as paredes das artérias. A relação entre a pressão arterial e o glaucoma é mais complexa.
Algumas pesquisas sugeriram que uma pressão arterial sistêmica muito alta pode aumentar a pressão intraocular em algumas pessoas, o que poderia potencialmente aumentar o risco de glaucoma. No entanto, outros estudos não encontraram uma associação clara entre a pressão arterial e o glaucoma.
O glaucoma é caracterizado pelo neuropatia óptica crônica que cursa com defeitos típicos no campo visual podendo levar a perda visual lenta e progressiva. Pode ocorrer com pressão ocular alta ou não. É a principal causa de cegueira no mundo. O tratamento é a diminuição da pressão ocular, porem as vezes isso não é suficiente, uma vez que a doença é multifatorial, temos que analisar outros dados, e entre eles a pressão arterial é fundamental.
O nervo óptico tanto sofre por aumento da pressão intraocular como pela falta de suprimento sanguíneo, sofrendo por isquemia, por má perfusão. Na hipertensão arterial, ocorre dois fenômenos: 1. aumento da resistência vascular, os vasos ficam com as paredes mais rígidas para suportar a maior pressão; 2. a diminuição acentuada da pressão pode levar a baixa perfusão do nervo óptico. Esses dois fatores juntos provocam uma má nutrição do nervo óptico, podendo desencadear a piora do glaucoma mesmo em casos com a pressão ocular baixa ou controlada. A premissa de que para o controle da hipertensão arterial, o ideal é uma pressão bem baixa, deve ser considerado com cautela, pois a deficiência de circulação também é nociva.
A relação entre a pressão arterial e a pressão ocular não é direta, ou seja, o aumento de uma não leva ao aumento da outra, mas sabe-se que a pacientes com glaucoma e com hipertensão arterial tem uma menor perfusão no nervo óptico, o que pode ser a justificativa para a progressão em alguns casos aparentemente controlados É preciso ter controle nas duas doenças, o controle da pressão arterial é fundamental, porém devemos ficar atentos a hipotensão noturna e/ou a pressão arterial diastólica muito baixa pois podem provocar mais lesões em olhos já sofridos pelo glaucoma. E como o glaucoma é uma patologia silenciosa, pode surgir ou piorar sem dar sinais, nem sintomas.
Informação adicional
26 de abril – Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial
Esta data, estabelecida pela Lei nº 10.439/2002, tem como propósito sensibilizar a população sobre a importância do diagnóstico preventivo e tratamento desta doença.
A hipertensão é caracterizada pela elevação contínua dos níveis de pressão arterial, acima de 140×90 mmHg (milímetro de mercúrio), popularmente reconhecida como 14/9. O primeiro número refere-se à pressão máxima ou sistólica, relacionada à contração do coração; enquanto o segundo refere-se à pressão mínima ou diastólica, quando o coração relaxa.
A hipertensão arterial pode ser primária, quando determinada geneticamente, ou secundária, quando decorrente de outras condições de saúde, como doenças renais, da tireoide ou das suprarrenais. É crucial identificar a origem do problema para iniciar o tratamento apropriado.
Principais causas: Obesidade, histórico familiar, estresse e envelhecimento estão associados ao desenvolvimento da hipertensão. O sobrepeso e a obesidade podem antecipar o surgimento da doença em até 10 anos. O consumo excessivo de sal, juntamente com hábitos alimentares inadequados, também contribui para o desenvolvimento da hipertensão.
Tratamento e cuidados após o diagnóstico: Embora a hipertensão, na maioria dos casos, não tenha cura, pode ser controlada. Nem sempre o tratamento envolve o uso de medicamentos, sendo essencial adotar um estilo de vida mais saudável, incluindo mudanças nos hábitos alimentares, redução do consumo de sal, prática regular de atividade física, cessação do tabagismo, moderação no consumo de álcool, entre outros. Complicações: As principais complicações da hipertensão incluem derrame cerebral (AVC), infarto agudo do miocárdio e doença renal crônica. Além disso, a hipertensão pode resultar em hipertrofia do músculo cardíaco, levando a arritmias cardíacas. O tratamento contínuo da hipertensão aumenta a qualidade de vida e a expectativa de vida.